Análise da Atividade II
Analise o triângulo abaixo e verifique se as extremidades dos segmentos estão se encontrando. Dê zoom, se preciso for.
Esta atividade era somente para os estudantes verem que é possível construir um triângulo no aplicativo. O objetivo principal dessas duas primeiras atividades era despertar interesse nos estudantes sobre como o que devemos fazer para conseguir construir um triângulo corretamente. Muitos estudantes me perguntaram o que era para realmente fazer nessa atividade, já que o triângulo já estava construído. Eu expliquei aos estudantes que era para analisar se o triângulo estava perfeitamente construído, verificando se as extremidades dos segmentos estavam se encontrando. Depois disso, era para eles anotarem as conclusões obtidas na folha que eu tinha entregado a eles, ilustrada abaixo.
A seguir descreverei a conclusão obtida na Atividade II por cada um dos grupos. Numeramos as conclusões dos grupos de 1 a 8 e, o grupo 1 dessa atividade, por exemplo, é o mesmo grupo 1 das demais atividades. Conclusões obtidas a partir da folha de respostas da Atividade II de acordo com a numeração dos grupos:
- “Sim, está se encontrando perfeitamente.”;
- “Os deles estão igualados e o nosso não por que não temos noção de espaço.”;
- “A mesma forma a gente não consegue.”;
- “Com as extremidades juntas dá pra se fazer um triângulo perfeito.”;
- “O triângulo é perfeito e todas as extremidades se encontram.”;
- “Sim, as extremidades se encontram, não sabemos como, porque nós não conseguimos mais sim elas se encontram.”;
- “Sim estão encontrando.”;
- “As extremidades não estão se encostando, parece que estão mas, com o zoom, as extremidades não se encostam.”
A partir dessas conclusões inferem-se alguns pontos. O grupo 6, por exemplo, demonstrou na sua conclusão que eles ficaram intrigados em entender por que no triângulo dessa atividade as extremidades se encontram e no que eles tentaram fazer na Atividade I não se encontraram. Isso era exatamente o que queríamos despertar com essas duas atividades iniciais. Queríamos que os estudantes tivessem uma motivação para, a partir daí, entenderem quais são as condições de existência de um triângulo. Outra coisa que se pode apreender é o tanto que as integrantes do Grupo 2 não estavam confiantes de que conseguiriam realizar as atividades. Na conclusão da Atividade I, elas usaram a palavra "difícil". Na conclusão da Atividade II elas falaram: "Não temos noção de espaço". A falta de credibilidade dos estudantes no seu próprio potencial é uma situação recorrente durante as aulas de Matemática. Entre três pontos importantes que se deve ter em um currículo de Matemática, no entendimento de Abrantes et al. (1997), destaca-se um deles que diz que cada estudante deve encontrar "prazer nas atividades que desenvolve na aula de Matemática, em particular porque sente crescer, por pouco que seja, a sua autoconfiança perante a Matemática" (ABRANTES et al., 1997, p. 33). É preciso desenvolver essa autoconfiança nos estudantes para que eles tenham mais interesse nas aulas de Matemática. As atividades exploratórias desta pesquisa foram pensadas, entre outras coisas, para agirem dessa forma, para desenvolverem a autoconfiança dos estudantes e serem prazerosas. Uma das potencialidades das atividades exploratórias é a discussão em grupo no momento da exploração, que permite aos estudantes conjecturar e validar argumentos, fazendo com que um integrante do grupo auxilie o outro na compreensão da atividade e dos conteúdos abordados, desenvolvendo mais a autoconfiança deles e aumentando o interesse nas aulas. Sabe-se que os professores têm parcela de culpa nessa falta de confiança dos estudantes, quando indiretamente fazem microagressões¹ durante as aulas, falando que eles já deveriam ter aprendido isso em anos anteriores ou que eles não têm domínio dos conteúdos como deveriam: [...] geralmente se deixa a cargo dos estudantes o estabelecimento das relações entre o aprendizado atual e o que já foi visto por eles em séries anteriores. Sendo assim, qualquer tipo de retomada ou revisão fica a cargo dos próprios estudantes, pois os professores tendem a “lavar as mãos” geralmente argumentando que eles “já deveriam ter aprendido isto”. (MIRANDA, 2016, p. 169) Tais falas criam um ambiente de pouca credibilidade do estudante nele mesmo e dificulta a aprendizagem nos anos posteriores. Na Atividade II, eles nada precisavam fazer, a não ser conferir o que já estava feito. A falta de credibilidade do grupo 2 neles mesmo é tanta, que elas usaram o espaço da conclusão para escrever uma frase que eles provavelmente escutariam de alguém: "Não temos noção de espaço". Há ainda outro fator a ser tensionado sobre esse grupo: ele era formado por quatro meninas. Para Lopes e Ferreira (2013, p. 83), "assim como as mulheres, outras minorias são muitas vezes prejudicadas por não se reconhecerem na escola e, especialmente, nas aulas de Matemática". Durante a primeira metade da gravação pelo microfone do terceiro encontro, o grupo 6, também formado somente por meninas, relatou um caso em que elas se sentiram humilhadas pelo professor de Matemática. Ao narrar o ocorrido, elas disseram que uma vez foram chamadas à frente da sala para responder uma pergunta e não o conseguiram corretamente. Elas declaram que o professor disse: "Não é possível que uma menina desse tamanho não consiga responder isso!" (excerto da gravação de voz do dia 23/08/2022, parte inicial da aula). A partir desse ocorrido, uma delas disse: "Eu fico com medo de perguntar as coisas e ele me humilhar na frente da sala toda e todo mundo ficar rindo, porque ele faz isso e todo mundo ri das pessoas" (excerto da gravação de voz do dia 23/08/2022, parte inicial da aula). A outra integrante do grupo completou: "E ele dá mais atenção para quem é mais espertinho, entendeu? Para nós mesmo, que precisamos de ajuda, ele não dá!" (excerto da gravação de voz do dia 23/08/2022, parte inicial da aula). Ocorrências como essas causam o distanciamento de parte dos estudantes das aulas de Matemática. Segundo Lopes e Ferreira (2013, p.86): A partir do momento em que o estudante se reconhece em sala de aula e no que está sendo ensinado, é valorizado por se perceber parte daquele universo, atribuindo importância à sua própria cultura e aos conhecimentos que traz consigo. Tal valorização tem efeitos além da vida escolar, contribuindo para que esse sujeito perceba-se importante perante a sociedade, reconhecendo seus direitos enquanto parte integrante dela. (LOPES E FERREIRA, 2013, p. 86) Assim, faz-se extremamente necessária a inclusão de todas e todos nas aulas de Matemática. É preciso promover uma educação libertadora, defendida por Paulo Freire há tanto tempo. Sem essa inclusão, distanciamentos como o citado se tornam cada vez comum, fazendo da escola algo sem sentido e limitada a poucos. [1] Essa palavra foi utilizada no senso comum, associando o termo a uma agressão verbal.
ABRANTES, P., LEAL, L., TEIXEIRA, P., & VELOSO, E. Inovação Curricular em Matemática. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. LOPES, L. S.; FERREIRA, A. L. A. Um olhar sobre a história nas aulas de matemática - DOI 10.5752/P.2316-9451.2013v2n1p75. Abakós, v. 2, n. 1, p. 75-88, 30 nov. 2013. MIRANDA, W. Erros e obstáculos: os conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental no processo de avaliação.Revista Margens, p. 169, 2016.